quinta-feira, 19 de março de 2015

Teatro Dulcina: arte afetada pela falta de verba



Não há poltronas, faltam reformas e sobra mofo. Esta é a condição do teatro Dulcina de Moraes em Brasília. Uma obra tombada, patrimônio histórico da capital, está sem verbas para continuar funcionando. O teatro foi criado na década de 80 e desenhado pelo próprio Oscar Niemeyer. Este ano, no aniversário de Brasília (21/04), o Dulcina completa 35 anos. Mas a situação não é de se comemorar. A falta de manutenção na rede elétrica abre possibilidade para curtos-circuitos no espaço. Uma professora de teatro da faculdade Dulcina de Moraes, que não quis se identificar, disse que já houve pequenos incêndios no local por causa da condição precária. Desde a inauguração, o Dulcina não teve uma única reforma, segundo a professora.

O carpete do teatro está gasto e puído. A maioria das cadeiras que continuam no espaço está quebradas. A professora alerta para o estado do palco, que é de madeira e também precisa de reparos. “O teatro todo precisava passar por uma renovação”, lamentou a educadora. Em 2013, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios considerou a antiga gestão inapta a administrar o Teatro e a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e nomeou dois interventores para gerenciar a Fundação Brasileira de Artes – responsável pelo teatro e pela faculdade.

Além do palco do Dulcina de Moraes, há um pequeno teatro que também compõe o espaço cultural da faculdade. Mas o Conchita de Moraes – apelido carinhoso da atriz – também está em más condições: não há luz no camarim; há goteiras em cima do palco, que, por ser de madeira, não deveria molhar; cadeiras também quebradas etc. O espaço Dulcina de Moraes tem capacidade para 400 pessoas, aproximadamente, mesma capacidade da sala Martins Pena do Teatro Nacional.

A professora lembrou que a manutenção elétrica feita em um teatro é diferente da que é feita em uma residência ou escritório. A quantidade de refletores consome muita energia enquanto o espetáculo está no ar. Ainda há aparelhos de som, microfones e, em alguns casos, aparelhos de projeção. Essas características dificultam a manutenção de espaços como o teatro. A professora também reclamou da falta de transparência na administração.

A Faculdade de Artes Dulcina de Moraes não está também nas melhores condições. Enquanto no teatro há risco de incêndio, a faculdade passa por alagamentos quando chove na capital. O gesso do teto cai com frequência, segundo a professora. Os professores estão sem salário há mais de um ano. De acordo com outro professor que preferiu não ser identificado, há colegas de trabalho que estão sem remuneração financeira há quase 18 meses. O ex-aluno Adeilton Oliveira disse que não havia luz no prédio no dia da apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a faculdade ficou seis meses sem energia.

O interventor do Ministério Público responsável pelo teatro e pela faculdade, Marco Schmitt, admitiu à reportagem que o Dulcina está com problemas. Entretanto, ele acredita que o complexo Dulcina já melhorou bastante desde que assumiu. Ele disse que apesar dos professores receberem em atraso, eles são pagos. Para o interventor, o importante é não desistir do Dulcina. “Nós temos problemas reais agora oriundos de um passado e a gente tem uma perspectiva de melhorar”, concluiu o interventor.

A professora do início da reportagem disse que o esperado é que o governo investigue as antigas gestões da Fundação de Arte de Brasília (FAB) – responsável pelo teatro e pela faculdade – e que haja transparência com as contas públicas da fundação. O outro professor também disse que os problemas da faculdade começaram com uma greve em 1989. Segundo o docente, a paralisação afetou o número de alunos matriculados.

Manifestações
Os professores e alunos da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes já fizeram protestos em anos anteriores para reivindicar melhorias no complexo. Em 2012, Adeilton organizou uma mobilização para que o Governo do Distrito Federal se manifestasse em defesa da faculdade. Em março de 2013, uma comissão parlamentar realizou um ato simbólico que reuniu cerca de 150 professores, alunos e funcionários da faculdade. Os estudantes também criaram um abaixo-assinado virtual, que pede ajuda para salvar a FBA. A petição tem 721 assinaturas, até a publicação desse texto.

Em 2013, houve iniciativas do GDF e da Fundação Brasileira de Artes para se unirem e constituírem a primeira faculdade pública voltada só para artes no Brasil. Desta forma, o governo seria o responsável pelo conteúdo, pelas despesas e manutenção da instituição. Entretanto, a Secretaria de Educação informou que os gestores da faculdade desistiram da parceria.

Quem foi Dulcina de Moraes?

Dulcina de Moraes era atriz, diretora, produtora de espetáculos e professora de artes cênicas da faculdade homônima. Ela veio para Brasília influenciada pelo presidente Juscelino Kubitscheck e transferiu a sede da Fundação Brasileira de Teatro para a nova capital. Ela auxiliou Oscar Niemeyer a construir o projeto da faculdade, que tornou-se responsável pela formação de milhares de artistas e arte-educadores na região Centro-Oeste e em todo o Brasil. Para ela, a vocação de Brasília era ser o grande pólo de cultura do país.

Dulcina de Moraes nasceu em 1908, na cidade de Valença, no Rio de Janeiro. Ela é considerada pela crítica como a mais importante intérprete teatral brasileira no Século XX. Fernanda Montenegro, uma das mais importantes atrizes do Brasil, afirma que Dulcina foi uma de suas referências no teatro. Ela também lecionou artes cênicas à atriz Marília Pêra.

A Faculdade oferece cursos de graduação em licenciatura e bacharelado em Artes Cênicas, licenciatura em Artes Visuais e Pós-Graduação nos cursos de Direção Teatral, História das Artes Visuais e Gestão de Espaços e Projetos Culturais.

Assista o vídeo feito pela Funarte sobre a vida e o Teatro Dulcina de Moraes:
https://www.youtube.com/watch?v=94nS7dOfMOY

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